Equilibrando entre puxar assunto e o silêncio

Você já sentiu medo de quebrar o silêncio, mas também medo de deixá-lo durar demais?

ESCRITASBLOG

4/28/20253 min read

Num sábado, em um bar, uma conhecida de um amigo entrou na nossa roda; o amigo se ausentou por uns instantes, e lá estava ela, dura e com os olhos ansiosos por uma conversa.

Nunca fui muito boa em puxar assunto. Às vezes, fico horas ensaiando uma palavra que nunca sai. Eu confessei esse meu comportamento, até então desconfortável para mim, para a minha namorada, e ela ressoou uma frase em meu ouvido que me deixou reflexiva: “Não se obrigue a falar, você não é obrigada a puxar assunto quando não quiser.”

Vamos começar por aqui esta reflexão cheia de ramificações. Aquela menina criada de vestidinhos, joelhos impecáveis e de personalidade leve como uma pluma não deveria mais existir dentro de nenhuma mulher. Puxar assunto com um desconhecido, ou com alguém com quem não se tem muita intimidade, não é obrigatório. Você não precisa ser agradável sempre nem superar a expectativa do outro.

Essa obrigação velada de que nós temos que preencher o silêncio, ainda mais com uma pessoa com quem você não tem tanta intimidade, é terrivelmente insuportável para mim. Isso me gera ansiedade e até ressentimento.

O que poderia conversar com ela? Será que ela mora por aqui? De onde ela conhece meu amigo? Em milésimos de segundos, inúmeras perguntas e pautas diversas me vieram à mente numa tentativa insana e inquieta de tentar algum diálogo com a desconhecida. Mas, quando percebi, ela foi para outra mesa encontrar outra galera. Ufa, pensei. Talvez a tal desconhecida também tivesse essa dificuldade de puxar assunto ou simplesmente não estivesse tão a fim, como eu.

Mas isso tudo me faz pensar que o ato de ultrapassar a sua vontade de querer ficar em silêncio e “ter que” puxar algum assunto seja um caso sério de agitação mental. Me faz pensar também que tal ato de puxar assunto, que poderia, sim, trazer alguma troca positiva, é uma tarefa performática. Quando não quero conversar e me exijo tal ação, inquietando minha condição e minha vontade, é uma tentativa de ser vista de alguma maneira agradável, simpática, assumindo, assim, um comportamento previsto.

Até quando a gente se anula para ser agradável?

Outro ponto que trago sobre essa pauta intrigante é: o desconforto das pessoas com o silêncio. Eu gosto do silêncio, ele não é desconfortável para mim - tem gente que não gosta do silêncio e faz disso uma festa de gala em todos os ecos que possam surgir em seu dia, preenchendo-os com o caos. Mas acredito que o silêncio seja esse espaço de aceitação da realidade como ela é, sem intervenção barulhenta. Estar em silêncio é ouvir e sentir o que se sente, prestando atenção a si, principalmente. No silêncio, não há a falta de palavras, mas sim um espaço onde a gente se revela. É (re)aprender a contemplar e a conviver sem precisar de estímulos.

Ali, naquela roda do bar, eu não soube respeitar esse silêncio, me senti pressionada a preencher o vazio que meu amigo deixara. Essa obrigação habita em mim desde quando? Tenho a necessidade de o outro me ver como uma mulher mais agradável por quê? Onde e como estou nesse ambiente?

É importante fazer uma leitura do momento, quem são as pessoas que te rodeiam, como você se sente naquele espaço e se existe, de fato, algo legítimo que queira interagir. É sobre estar livre dessa obrigação e mais conectada consigo mesma, tirando de nós a preocupação descabida de ser a responsável pela leveza o tempo todo. E é através do silêncio que aprendemos a observar e fazer essa leitura pessoal.

Disso tudo, eu aprendo que é preciso respeitar seu próprio ritmo e o dos outros. O silêncio tem papel fundamental no encontro humano; ele permite que o outro se expresse em seu tempo, sem pressão - isso gera confiança e acolhimento. Mas também me ensina a ouvir, sobretudo a mim mesma, sem fuga. Ao entender quando falar e quando ouvir, podemos criar conexões mais autênticas e significativas. A prática e a observação são essenciais para dominar essa arte, permitindo que nossas conversas sejam mais fluidas e gratificantes.

Aprender a silenciar é, muitas vezes, o primeiro passo para aprender a ser. O que você pensa sobre isso?