Goiabeira guardiã

Na infância, eu subia mundos
e um deles era a goiabeira do quintal
não era só pelas goiabas
mas pelo silêncio da contemplação
onde o tempo parecia encurtar
Seu gosto adocicava as arestas dos dias
e eu, miúda, abraçava seu tronco fino
fiel aos segredos que lhe contava
E subia
subia alto
até tocar o inalcançável com as pontas dos dedos
Dali via a rua correr
e eu, sentada no galho mais audaz
entre risos e traquinices
jorrava água por quem passava
Mas a brincadeira incômoda nunca durava muito...

Talvez tenha sido ali
com os sonhos no ar
que sentia a liberdade
Talvez ali
foi o instante mais inteiro da minha infância
Hoje, ao revê-la -
a velha guardiã de goiabas e segredos -
fui plateia do que já fui

Mas não subo mais em goiabeiras
não por falta de vontade
mas por excesso de chão