O silêncio é um tabu?

O tic tac me persegue. A prática de esperar não existe mais. Agora temos um companheiro do tédio onipresente. Na maioria das vezes eu abro a tela e percebo o tédio. Como ele se veste, como ele é teimoso, rápido e instintivo. O tédio é perspicaz, mas também age como uma criança faminta. Agora somos humanos com uma extensão fixa e involuntária grudada em nós. Como vamos gostar do silêncio?

Estar na estrada de barro em Lumiar, região serrana do Rio, com os tons de verdes limitando a visão, o céu fresco, e em volta as suas coisas, mil coisas e coisinhas, para se olhar. O olhar não para. O tédio ali não existe. Não pra mim que gosto de ocupar o olhar com a natureza. Mas tem gente que se estranha nesse ambiente entedioso, não gosta de conviver consigo mesma.

O silêncio não me perturba. Antes me perturbava. Me sentia obrigada a conversar, puxar papo, ou buscar algo para me ocupar - mesmo querendo apenas ficar em silêncio. Afinal, o silêncio é um tabu?

Tem gente que tem muito o que falar, claro! Mas eu nem sempre tenho. Na verdade eu nunca tenho muito o que falar. Antes achava que eu não tinha assunto, ou achava todos os assuntos chatos. Outras vezes achava que não tinha muito o que agregar na conversa. Insegurança? Pode ser. Mas hoje tenho outra visão sobre isso: aqueles que muitos falam muitas vezes não escutam, e não se escutam. Prefiro estar muda do que não me ouvir.

A verdade, bem nua e crua, acho que gosto de conversar mais comigo mesma. Qualquer boca inquieta me apavora! Me tira do eixo um pouco. Não gosto do caos energético. Meus pensamentos gostam de conversar entre si antes de vomitar verbos e consoantes baratas. Eu penso demais. E melhor, sou distraída. Quando percebo, estou navegando à deriva cheias de palavras companheiras. Ou bem mais em paz do que aquelas bocas egóicas e infladas. Gosto de mim assim, quieta. Uso a boca para outras coisas.

Eu sou minha própria companhia. Acho que é por isso que gosto tanto de ficar em silêncio.

Experimentem. Mas experimentem mesmo! Sem se incomodar com o tédio do outro ou a ocupação que ele escolheu estar. Estar em silêncio e gostar disso é libertador. Mata suas carências, evolui suas reflexões, acalma, traz paz. O silêncio te amadurece devagar, o tempo te amadurece à base de fertilizantes.

Xi! Ouve o silêncio.